A importância de compartilhar histórias
Ao bater a porta do carro, me questionei: Por que fiz isso? Me expus? Fui impulsiva. Típico comportamento padrão de uma sociedade que aprendeu a não se entregar.
Keith Richards prefere confiar nas pessoas. Descobri isto, há alguns anos, lendo Vida, a biografia do guitarrista dos Stones. E me impressionei. Me impressionei porque a gente não espera que uma celebridade circule por aí confiando em qualquer sujeito. No livro, o roqueiro destaca algo assim: “eu prefiro confiar nas pessoas até que me provem o contrário”. Ele eleva o desgosto de uma traição ao dessabor de não ter fé na humanidade. É o que dizem os estudiosos: acreditar que a confiança vem antes da vulnerabilidade é um mito. Se eu caminho por aí, no sentido inverso de Richards, vestindo a armadura da desconfiança, corro sérios riscos de me tornar mais fraco e sozinho na ilusão de uma coragem que na verdade é medo.
Conto uma história particular para contextualizar. Eu havia conhecido a Rita, nome que inventei para preservação de identidade, há menos de dois meses. Estávamos realizando um trabalho intensivo juntas que nos provocou a organizarmos vários encontros e reuniões em um curto período. Sabíamos pouco, o suficiente para a tarefa que estávamos realizando, sobre a vida pessoal uma da outra. Certo dia, após um dos nossos cafés, começou a chover forte e ela me ofereceu uma carona, de poucas quadras, até a minha casa. Não sei como o papo evoluiu tão rápido, mas acabei compartilhando com ela algo extremamente pessoal, uma dificuldade de saúde que eu vinha enfrentando nos tempos recentes. Muito sutil, ela olhou para mim e disse: “te entendo, também já passei por isso, e dividiu brevemente a sua experiência”.
Ao bater a porta do carro, me questionei: Por que fiz isso? Me expus? Fui impulsiva. Típico comportamento padrão de uma sociedade que aprendeu a não se entregar. A resposta viria logo depois. Eu estava de cama, lidando com um episódio depressivo depois de um dia particularmente difícil, quando recebi um áudio dela. “Oi, Fernanda. Em primeiro lugar: como tu está? Bom, estou te mandando essa mensagem por que fiquei pensando na nossa conversa e imagino que esta semana esteja complicada para ti. Se tu precisar cancelar o nosso compromisso amanhã, não tem problema algum, vamos remarcar em um momento em que tu estejas se sentindo melhor”.
Me emocionei com aqueles 45 segundos de voz embalados em gentileza. Agradeci e aceitei o carinho. Como eu havia fechado a agenda do dia seguinte para trabalhar com ela, consegui tirar o dia todo para mim, para me cuidar. Pensei: que bom que confiei. Que importante é compartilhar nossas histórias com quem convivemos. Na maioria das vezes, dá certo. Somos tratados com mais tolerância, espaço e identificação. Não é sobre “oversharing”, dividir tudo com todos a qualquer hora. É mais relacionado à rede de convivência e dar a oportunidade para que os outros sejam mais cordiais.
Da vontade de compartilhar histórias minhas que talvez façam sentido para ti criei esse canal. Sem papo pela metade ou o famoso “continua nos comentários”. Este é um ambiente para escrita e para a leitura. E tem espaço para todo mundo.
Bem-vindo à casa dos textões da Fê Pandolfi.
Que surpresa 📬 e alegria 😍! Mais uma
oportunidade para “te ler”. Que sejas bem feliz por aqui! 🧡
Muito bom! Como tudo que tu escreve! beijo no coração! Meu e da Julia.