Recalculando a rota
Cuidado: se algum dia você se permitir fazer aquilo que realmente ama, corre o risco de não querer mais voltar para o lugar de onde saiu.
Cuidado: se algum dia você se permitir fazer aquilo que realmente ama, corre o risco de não querer mais voltar para o lugar de onde saiu. Depois de escrever o meu livro em 2021 e passar o primeiro semestre de 2022 trabalhando em lançamentos e divulgação do título, caí em um buraco. Voltei para um local onde a escrita sempre ocupou o papel coadjuvante e em que a Fernanda escritora se escondia atrás de um perfil de lifestyle e marketing no Instagram. Ficou tudo lotado de um vazio. A sensação era a de ter começado a escalar uma montanha difícil e, depois de passar no primeiro teste de altitude, dar-se por satisfeita e optar por desmanchar acampamento e voltar para solo firme.
Nos seis meses que restaram de 2022, passei a enxergar o cume cada vez mais distante. Até que um pequeno texto editado às pressas no meu Instagram, acompanhado de uma imagem de baixíssima resolução do Justin Bieber, viralizou. O assunto era saúde mental, que é o meu tema de escolha normalmente, e os cerca de 40 mil compartilhamentos, que me trouxeram aproximadamente 300 mil leitores, batiam em uma mesma tecla: “vocês precisam ler isto”. Aliás, viralizar com uma mensagem potente é uma experiência doida. Recomendo. Após a euforia de me conectar via palavras com aquela gente toda, incluindo celebridades e pensadores dos quais sou fã, o buraco já me esperava prontinho, com uma série de publicidades e conteúdos que me distanciavam dos meus textos.
Então, me segurei na beira do precipício e, com as mãos suadas, peguei impulso e pulei já me movendo. E foi rumo à montanha. Naquele ímpeto, decidira que no dia 1º de janeiro de 2023, eu passaria por um reposicionamento. Nada mais que não tivesse relação com contação de histórias e escrita teria espaço nas minhas redes sociais e esfera profissional. Hoje, faltando quatro dias para encerrar o ano, consigo ter orgulho da trilha percorrida. Existiu um limbo inicial. Quase todos os clientes (à exceção de um) foram embora e milhares de seguidores também – o que é super justo, já que a personalidade da Fernanda escritora é muito diferente da Fernanda influenciadora. Aos poucos, bem devagar, novos projetos foram surgindo, extremamente alinhados com o que sei e gosto de criar. Gente diferente também chegou para ficar. A fim de ler. Debater ideias mais profundas e conversar sobre cinema e literatura.
Eu até tentei e comecei a escrever meu novo livro, mas outra gestação, uma literal, me travou neste caminho. Não encontrei compatibilidade entre a vivência ficcional e a real e precisei de um intervalo. Foi aí que surgiu o Substack, este canal por onde escrevo hoje. Um espaço para crônicas de fôlego em que as pessoas podem se inscrever para receber meus textos mensalmente. E qual foi a minha alegria ao perceber que esta rede foi inflando a ponto de encerrarmos o ano com cerca de mil assinantes? São leitores dispostos, que fazem questão de receber minha escrita todo dia 27 para uma pausa com café e reflexão. Aproveito e deixo o meu muito obrigada àqueles que estão por aqui e dão sentido ao meu “recalcular da rota” me retransformando em escritora a cada nova crônica e me impulsionando para diminuir a distância do tal cume.
Lembre-se: se for do seu desejo recalcular a rota em 2024, que seja na sua própria direção.
Feliz ano!
Lindo e necessário! Obrigada por este texto forte, potente e que se conecta com a minha Tracy de 2023… recalcular a rota para estar alinhada consigo mesma é parar de fazer apneia. Eu amo essa Fe Pandolfi e ela faz muito sentido com a menina que dança no espelho!
Perfeito Fernanda! Como eh difícil dar a marcha ré na vida! Ótimo texto! Depois do Frederico nascer tenho certeza que terás mais inspiração para o próximo livro! Bjo