Você precisa conhecer a Severina
Ilhados com a Sogra, o reality show da Netflix que começou com muitas risadas da situação inusitada, mostrou-se um grande experimento acerca da convivência familiar.
Imagina o seguinte cenário: você e seu parceiro decidem participar de um reality show de casais em uma ilha deserta. Mas, peraí, o que é um pontinho colorido no meio do mar? A sogra chegando para participar da brincadeira! Não bastasse este elemento surpresa, você é obrigado a se despedir do seu cônjuge e permanecer apenas com a mãe do sujeito em isolamento. Esta é a descrição do programa Ilhados com a Sogra, que é sucesso na Netflix e vem rendendo muitas pautas por aí. Interessei-me por acompanhar depois de ler um comentário que dizia: “o reality que não prometeu nada e entregou tudo”. E o que começou com muitas risadas da situação inusitada, mostrou-se um grande experimento acerca da convivência familiar.
Dentre as seis mulheres selecionadas a dedo, é claro, com histórias um tanto conturbadas com os pares dos filhos, destacou-se logo de cara Severina Tenório. Antes do programa, a diarista não conhecia o genro, Thyago, e se mostrava profundamente magoada e irritada com a falta de interesse do marido da filha, Mayara, em encontrá-la. A primeira tentativa de aproximação da dupla é caótica. Em um embate repleto de insultos e extremamente agressivo – com mais exaltação por parte de Severina –, apresenta-se a figura da clássica sogra de difícil convivência. Cheguei a exclamar para o Felipe, meu marido, horrorizada: já imaginou ter uma sogra dessas?! E sem ter rota de fuga. Isto somado ao fato de que ambos precisam dormir juntos, realizar as provas em sintonia e buscar o prêmio de R$ 500 mil para a família.
“Se ela me entrega raiva, eu respondo com amor”, foi a estratégia inteligentíssima emocionalmente adotada por Thyago para tentar se chegar na mulher, que parecia irredutível na ideia de não criar laços com o homem por quem a filha se apaixonou. Neste fluxo de convivência obrigatória, passamos a conhecer melhor Severina. Ao acompanhar a jornada pesada de carência afetiva, abandonos consecutivos, maternidade solo e pobreza da nordestina, aos poucos, vamos compreendendo algumas atitudes, nos sensibilizando e passando a simpatizar com aquela figura que parecia tão dura, mas é tão sábia e experiente no molde que a vida lhe proporcionou. Em um determinado momento, talvez, o mais emocionante da temporada, a psicóloga familiar que acompanha o show, comenta: às vezes, esquecemos que todas essas mulheres têm suas bagagens pessoais.
Mr. Rogers, que foi um importante apresentador de programas infantis nos Estados Unidos, costumava carregar na carteira, como um santinho, um papel com uma citação de um ativista social: “Honestamente, não há ninguém que você não possa aprender a amar depois de conhecer a sua história”. (Aliás, abro um parêntese aqui para sugerir o belíssimo filme Um Lindo Dia na Vizinhança, com ótima atuação de Tom Hanks e indicação ao Oscar, retratando a biografia de Fred Rogers). No entanto, é necessário se interessar pelo outro, pelas relações, investir na convivência.
A mudança de sentimento e percepção da audiência em relação à Severina ao longo dos episódios só foi possível porque se abriu espaço para que ela compartilhasse sua estrada e porque estacionamos para escutá-la. Ao contrário da postura adotada pelos outros participantes da ilha, que optaram por rejeitá-la. De fora, ficou muito claro que foi indispensável quebrar a casca para alcançar o valioso recheio lá de dentro, carregado de inteligência. “Minha língua é a minha arma e meu escudo”, sintetiza ela.
Você precisa conhecer a Severina para – facilmente – amá-la.
Adorei! Fiquei curiosa! 😘